
A disputa econômica entre Estados Unidos e China reacendeu o debate sobre quem controla os insumos que movem o futuro da tecnologia. E nesse tabuleiro global, Catalão (GO) surge como uma das principais apostas brasileiras.
As terras raras, grupo de 17 elementos químicos usados em celulares, carros elétricos, turbinas eólicas e equipamentos militares, são consideradas o “novo petróleo” do século XXI. A China domina 70% da mineração mundial, 90% do refino e 93% da produção de ímãs, o que gera dependência internacional. A recente decisão do governo chinês de restringir exportações fez os Estados Unidos reagirem com novas tarifas, ampliando o clima de tensão e revelando o peso estratégico desses minerais.
O Brasil aparece como alternativa importante nesse cenário. De acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), o país possui a segunda maior reserva mundial de terras raras — cerca de 21 milhões de toneladas —, mas ainda produz muito pouco. Entre os principais depósitos brasileiros, o destaque vai para o complexo Catalão I, em Goiás, que abriga minerais como monazita, ricos em elementos de terras raras, além de nióbio e fosfato.
Pesquisas da USP e da UFRJ mostram que o potencial da jazida é expressivo e que o material de Catalão pode ser usado em tecnologias de ponta. Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), as reservas goianas chegam a 119 milhões de toneladas, o que já desperta interesse internacional.
Recentemente, o governo de Goiás anunciou a criação do Centro de Pesquisa de Terras Raras em Catalão, em parceria com a Universidade Federal de Catalão (UFCat) e empresas estrangeiras. A iniciativa busca transformar o município em um polo de inovação e processamento de minerais estratégicos, reduzindo a dependência da China.
Além disso, uma comitiva japonesa já demonstrou interesse em investir no estado, avaliando a viabilidade de instalar unidades de refino e processamento. Há também projetos em andamento que preveem o beneficiamento de até 500 toneladas por ano, com plantas-piloto em Aparecida de Goiânia.
Especialistas afirmam que o grande desafio do Brasil é agregar valor localmente. Extrair não basta. É preciso desenvolver tecnologia para refinar, separar os elementos e transformá-los em produtos de alto valor agregado — de baterias a ímãs de alta potência. Isso exige investimento em pesquisa, qualificação de mão de obra e infraestrutura.
Se conseguir superar esses entraves, Catalão poderá deixar de ser apenas um ponto no mapa mineral e se tornar um polo estratégico para o futuro tecnológico do país.
“Quem controla as terras raras, controla boa parte da tecnologia mundial. Catalão tem um papel importante a desempenhar nesse novo cenário”, afirmou o vice-governador Daniel Vilela durante o anúncio do centro de pesquisa.
O caminho é longo, mas o potencial é gigantesco. Enquanto China e Estados Unidos travam uma guerra comercial bilionária, Goiás e Catalão se preparam para ocupar um espaço que pode redefinir o peso do Brasil na economia global.