A influenciadora digital Virgínia Fonseca prestou depoimento nesta terça-feira (13/5) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Apostas Esportivas, em andamento no Senado Federal. O grupo, liderado pelo senador Dr. Hiran (PP-RR) e com relatoria da senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), foi instalado em novembro de 2024 e deve funcionar até 14 de junho. A comissão é composta por dez membros titulares e sete suplentes.
O foco da CPI é apurar o impacto dos jogos de apostas online no orçamento das famílias brasileiras, além de investigar eventuais vínculos dessas plataformas com organizações criminosas, lavagem de dinheiro e a atuação de influenciadores digitais na divulgação desses serviços.
Na véspera da oitiva, a defesa de Virgínia conseguiu uma decisão favorável do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), garantindo o direito de ela permanecer em silêncio para evitar autoincriminação. Durante mais de duas horas de sessão, a influenciadora utilizou esse direito apenas uma vez.
Durante seu depoimento, Virgínia declarou que todos os ganhos provenientes de campanhas publicitárias relacionadas a apostas foram devidamente informados à Receita Federal. Ela também negou ter recebido valores extras vinculados às perdas de seus seguidores nos sites — prática conhecida como “cachê da desgraça”.
Questionada sobre a origem de sua fortuna, a influenciadora afirmou que sua ascensão financeira não está relacionada aos contratos com casas de apostas. “Já contava com 30 milhões de seguidores antes de divulgar apostas. Tenho uma empresa que faturou cerca de R$ 750 milhões no ano passado. Não foi o mercado de bets que me tornou milionária”, declarou.
Com mais de 53 milhões de seguidores no Instagram, Virgínia destacou que sempre busca orientar seu público ao divulgar plataformas de jogos. “Eu deixo claro que menores de 18 anos não podem acessar, e insisto na importância de jogar com responsabilidade. É possível ganhar, mas também perder — afinal, é um jogo”, disse.
Durante a reunião, senadores criticaram a publicidade de apostas, ressaltando seus efeitos nocivos e o potencial de incentivar o vício em jogos. Virgínia respondeu que está refletindo sobre a possibilidade de encerrar esse tipo de contrato, embora atualmente mantenha vínculo com a empresa Blaze.
“Se é algo tão prejudicial à população, então por que não proibir de vez? Ao invés de regulamentar, proíbe tudo logo. Mas eu nunca fiz propaganda para plataformas que não fossem legalizadas”, rebateu.
A senadora Soraya Thronicke contestou, lembrando que, em dezembro de 2022, ainda não havia regulamentação vigente, e mesmo assim Virgínia já promovia esse tipo de conteúdo. A influenciadora respondeu que sua equipe jurídica se baseou em uma legislação de 2018 para garantir respaldo legal.
A regulamentação atual sobre apostas foi sancionada no final de 2023 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Antes disso, a legalização das apostas de quota-fixa foi determinada por uma lei assinada em 2018 pelo ex-presidente Michel Temer, mas só veio a ser regulamentada anos depois.
Virgínia chegou ao Senado acompanhada do marido, o cantor Zé Felipe, e de sua equipe de advogados. Sua convocação foi proposta por Soraya Thronicke e aprovada pela comissão em dezembro do ano passado.
A CPI das Apostas Esportivas segue investigando a atuação das plataformas digitais no país e seu impacto financeiro e social entre os brasileiros.